A Biblioteca do Rei Afonso Henriques

domingo, 8 de março de 2020

Histórias da vida - "Mãe Coragem", no Dia da Mulher

Trabalho colaborativo entre o Apoio individualizado, departamentos de Línguas e de Ciências Experimentais, PES e Biblioteca Escolar, como homenagem e símbolo da luta empreendida pelos Direitos da Mulher.
Gostava muito da minha Avó Arminda: era e é uma referência para mim, pela coragem e determinação, pela suavidade e firmeza das suas palavras e gestos. Era suprema naquilo que fazia e dizia! Jamais esquecerei as suas histórias de vida que, inseridas num contexto rural, podem ser exemplo para todos. Sobreviveu às agruras da vida e fez sobreviver a Família.
Trabalhou, desde novinha, no minério de volfrâmio, nas Minas da Borralha, em Vieira do Minho. (Este minério foi necessário, na 2.ª Guerra Mundial, para o fabrico de armas.) Sabia que não podia deixar este emprego, para poder dar o Pão aos seus três filhos, enquanto o marido, o meu Avô, estava na guerra, segundo dizia.
Um dia, grávida do segundo filho e estando a trabalhar, chegaram as dores do parto. De repente,
sentiu que o "saco das águas" se rompeu e uma dor aguda anunciou que o parto estava próximo. Só teve tempo de abrir as pernas, puxar as saias e segurar o filho que acabara de nascer.
De outra vez, aos 40 anos, a minha Avó, grávida da minha Mãe, nas suas lides, bate com o molho de pesadas chaves de ferro das portas, no peito esquerdo, o que, em pouco tempo, provocou uma enorme mancha negra. O meu Avô João – que era a alegria da casa – levou-a ao hospital de Braga e foi-lhe diagnosticado cancro de mama em último grau. Tinha de ser operada urgentemente, mas não podia ser sujeita a anestesia, pois estava grávida. A "ferro e fogo" a minha Avó sentiu as dores da cirurgia até desmaiar.
Passado pouco tempo, ainda hospitalizada, tendo sofrido os horrores da recuperação da cirurgia, e não querendo ter o parto da sua filha no hospital, foge a pé, sozinha, para o recanto do seu lar, em Zebral, andando o percurso atual de cerca de 59 quilómetros pela estrada nacional, embora ela tenha, com certeza, seguido por atalhos, entre as montanhas, o que lhe abreviava o caminho, chegando a tempo para se deitar na sua cama e dar à luz, já protegida, a sua filha.
Viveu até aos 80 anos, mal sabendo que a neta mais velha, um dia, sofreria do mesmo mal com a mesma idade, no peito esquerdo.
Esta é uma homenagem que lhe presto, na comemoração do Dia da Mulher, pela memória dos tempos que vivemos juntas e do quanto me ensinou. 

A neta,
C. G.
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Cascata do Caldeirão, em Zebral, próxima da casa da minha Avó Arminda