“Felicidade Clandestina” — O conto escolhido para assinalar o “DIA INTERNACIONAL DA LÍNGUA PORTUGUESA”, com os meus alunos de 9. º Ano. Depois de terem visualizado um vídeo focando os nove países em que esta língua é falada, foram convidados a ler este conto, da autora brasileira Clarice Lispector, tomando contacto com as principais diferenças entre o português europeu e esta variedade de português.
APRECIAÇÃO
CRÍTICA DO CONTO “FELICIDADE CLANDESTINA”, DE CLARICE LISPECTOR, pela Prof.ª Natividade Oliveira
O conto “Felicidade clandestina” de Clarice Lispector é uma agradável narrativa sobre o prazer de ler, cultivado
por uma menina que se revela uma apaixonada leitora, pela forma como persegue
esperançosa e sofridamente o seu sonho de ler As reinações de Narizinho.
A atitude da protagonista deixa uma lição de
persistência
e de humildade (“Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia…”) que contrasta com a arrogância e sadismo da dona do livro que promete emprestá-lo, aproveitando-se do desejo da colega para exercer a sua vingança pessoal, pelo facto de ser diferente, sobretudo fisicamente (“enquanto o fel não escorresse todo do seu corpo grosso.”).
e de humildade (“Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia…”) que contrasta com a arrogância e sadismo da dona do livro que promete emprestá-lo, aproveitando-se do desejo da colega para exercer a sua vingança pessoal, pelo facto de ser diferente, sobretudo fisicamente (“enquanto o fel não escorresse todo do seu corpo grosso.”).
A
determinação e alegria da criança que procura ansiosamente ler um livro
desencadeia a reflexão sobre a importância da leitura, a satisfação e o mundo
de sonho a que a mesma pode transportar, presentes nas metáforas usadas pela
narradora – “comendo-o, dormindo-o” – elucidativas do seu afinco pela leitura,
aliás, pouco frequente nos jovens de hoje para quem a atividade é desenvolvida,
na maior parte dos casos, quando tem carácter obrigatório, o que é de lamentar,
pois considero que ler é uma viagem de lazer, uma inesgotável fonte de
conhecimento e de emoções.
Há livros que nos marcam para sempre. No meu
caso, que vivia numa pacata cidade alentejana (Estremoz) e, que pouco ou nada
conhecia da vida no Ribatejo, mas vivenciava o pós 25 de abril e toda a reforma
agrária, no local em que residia, Os Esteiros,
de Soeiro Pereira Gomes, devorado ainda em tenra idade, apresentou-me uma
classe injusta e sofredora e ainda hoje, recordo as imagens que eu construí
daqueles rapazes pobres e o susto que foi supor que essa realidade existia.
Por outro lado, o desejo da narradora de Felicidade Clandestina surge
como clandestino, pois ela não tinha acesso a livros e o longo protelamento do
seu empréstimo pela dona (visível em marcadores temporais como “Até ao dia
seguinte” – l. 23, “No dia seguinte” – l. 25, “No dia seguinte” – l. 35)
enfatiza a ideia de inatingível que aguça mais o desejo, como reza o provérbio
“O fruto proibido é o mais apetecido”.
Além disso, é inevitável a
reflexão sobre a vileza de uma criança capaz de infligir a outra “uma tortura
chinesa” que é aceite para cumprir um sonho. Esta submissão da narradora
parece-me excessiva por tocar a humilhação, pois considero que nada justifica a
ofensa à dignidade.
A profundidade das reflexões que o conto desencadeia decorrem também da
linguagem que a autora utiliza que, apesar de ser simples, é cheia de emoção
visível, por exemplo, no uso de advérbios como “imperdoavelmente” – l. 13,
“danadamente”- l. 44 ou de palavras
fletidas em grau (“livrinho” – l. 7; “bordadíssimas” – l. 9; “bonitinhas” –
l.13;), repletas de afetividade.
Efetivamente, este conto
proporciona um momento de meditação sobre comportamentos humanos e sobre as
emoções que conduzem a vida das pessoas, desde a infância, aqui evidenciados
através de uma criança para quem a leitura é suficiente fonte de felicidade e
de outra que se compraz com o sofrimento alheio.
Prof.ª Natividade Oliveira
Prof.ª Natividade Oliveira
Recensão
crítica sobre o conto “Felicidade clandestina”
Felicidade
Clandestina é um conto brasileiro escrito por Clarice Lispecto. A história fala
sobre uma menina, filha de um livreiro, que tinha boas condições de vida, porém,
era uma moça gorda e baixa, com um busto avantajado e invejava, por isso, o
físico das suas colegas, bonitas e esguias. Devido a isso, acaba por torturar psicologicamente
uma delas, a narradora, que todos os dias ia a casa dessa menina para pedir um
livro que ansiava muito ler e que a mesma se recusava a empresta-lo, iludindo-a
com mentiras.
O conto
agradou-me bastante e creio que tem uma boa moral. A escrita é fluída, mas é
preciso estar atento ao vocabulário. Estamos perante um conto brasileiro que
recorre a um vocabulário diferenciado da nossa leitura quotidiana, exemplo disso
são certas expressões no texto como “… era um livro para se ficar vivendo com
ele, comendo-o, dormindo-o” ou palavras com significados diferentes como
“balas”, que em português são rebuçados ou ainda o “sobrado”, o andar superior
de uma casa de dois pisos.
Embora neste texto as
personagens sejam crianças, acredito que está presente uma mensagem bastante
profunda acerca das relações que vamos tendo ao longo da vida com os outros,
perceber quem são os nossos colegas e os nossos verdadeiros amigos. Conseguimos compreender também que devemos ser persistentes e
ir atrás daquilo que desejamos. Apesar de todas as nossas ações terem
consequências, devemos sempre fazer aquilo que é
correto e nos traz alegria sem magoar os outros, pois a felicidade da
menina por não ter dado o livro à narradora foi apenas temporária, ao contrário
do olhar de reprovação e desilusão da mãe por descobrir os seus atos maldosos
que, na minha opinião, ficar-lhe-ia muito tempo a pesar na consciência.
Juntando
ainda a estes fatores, agradou-me muito ter conseguido passar-se uma moral tão
bonita de uma ponta à outra do mundo, através da língua portuguesa, algo que
toda a nação lusófona tem muito orgulho. É algo que nos une, milhões de pessoas
espalhadas pelo mundo falam esta língua maravilhosa, com elas vamos aprendendo
mais sobre as suas culturas e o seu quotidiano, tal como neste conto aprendemos
mais um pouco sobre o Brasil.
Concluindo, eu apreciei
bastante o conto “Felicidade Clandestina” por nos mostrar um pouco as condições
de vida no Brasil, ter uma moral tão bonita e um desfecho tão interessante. Creio
que todos podem aprender algo novo com este texto e aconselho a lerem-no.
João Pedro Soares Araújo, 9.º B
Bárbara Sousa, 9.º A
Este conto, "Felicidade clandestina”, agradou-me, pois demonstra-nos
uma lição de moral, isto é, não devemos fazer sofrer os outros. No fim, a
menina humilde conseguiu ler o livro que tanto queria e a menina má acabou
sendo castigada pelo seu ato, que, simplesmente, foi um ato de crueldade.
Bárbara Sousa, 9.º A
Apreciação crítica do texto” Felicidade
clandestina”
Na
minha opinião, o conto “Felicidade clandestina” é muito interessante.
Neste conto, a narradora conta-nos o seu
gosto pela leitura e a dificuldade que tinha, talvez por motivos financeiros e
uma vida simples, em conseguir ter um livro.
Toda a história se baseia na
tentativa de obter emprestado o livro As
reinações de Narizinho de Monteiro Lobato, que muito queria ler, de uma colega
com mais posses, e cujo pai tinha uma livraria. Ao longo da obra, a colega, que
era gorda, baixa e sardenta, mostrou-se maldosa e invejosa por não ter um corpo
desejado.
Este conto mostra-nos até
onde pode chegar o rancor de uma pessoa. Todos os dias, inventava uma desculpa
para não emprestar o livro à narradora, fazendo-a padecer. Gostava de a fazer
sofrer, tal como sofria com as suas inseguranças, isso fazia da narradora uma
vítima inocente.
No final, a mãe da colega, apercebe-se
da filha maléfica que tem e tenta resolver a situação. Obriga a filha a
emprestar o livro e ainda permite que a narradora fique com ele o tempo que
quiser.
O que mais me espanta neste
conto é ficar a conhecer como é que existem pessoas que ganham gosto a ver
outras sofrer. A pobre narradora vivia sempre o drama do dia seguinte, e, no
fundo, eu reconheço a sua felicidade quando, finalmente, segurou no livro e o comprimiu
contra o peito. Ela conquistou-o, sofreu para o ter, e, agora, queria lê-lo, vivê-lo
intensamente, mas, devagar.
O que faz com que este conto
seja ainda mais interessante é o facto de ser em português. Provavelmente se
fosse em inglês ou em espanhol não seria a mesma coisa, porque há palavras que
têm mais força numa língua do que noutra. Há um certo peso que as palavras têm,
e isso reflete-se nesta mesma história, é como se estivesse na pele da
narradora e sentisse a mesma ansiedade, uma ansiedade constante de ter o livro
nas minhas próprias mãos e a felicidade de quando passamos o dedo entre as
páginas. A autora, Clarice Lispector, soube jogar bem com as palavras e
conseguiu mostrar o poder das mesmas.
Concluindo, considero que
todos nós deveríamos ler este excerto e orgulharmo-nos dele.A Língua Portuguesa
é a “Pátria” ou a “Mátria” do Mundo Lusófono. Atravessa uma longa e vasta área
do globo. Como dizia José Saramago: “Não há uma língua portuguesa, há línguas
em português”, e faz sentido esta ideia. Serão 270 milhões de falantes da nossa
língua. Tenhamos orgulho nela e não permitamos acordos que lhe tirem a sua
essência.
Matilde Ribeiro 9.º B