A Biblioteca do Rei Afonso Henriques

terça-feira, 12 de março de 2019

Rumo à Índia - Oficina de escrita criativa

Oficina de escrita criativa
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Nau quinhentista de Vila do Conde
Imagina que és tripulante da armada de Vasco da Gama, na viagem rumo à Índia que ocorreu entre 1497 - 1498, uma das mais importantes na era dos Descobrimentos, consolidando a presença marítima e o domínio das rotas comerciais pelos portugueses.

 Oficina de escrita criativa - Redige uma Carta endereçada a um dos familiares ou a página do Diário de Bordo e conta as aventuras e desventuras desta Viagem.

Os trabalhos serão expostos e publicados no blogue da BE havendo prémios para os mais criativos.
        Lê  aqui alguns textos que os alunos produziram.
Diário de Bordo                                                 13 de agosto de 1497
        Hoje está ainda mais calor do que ontem. Parece que, à medida que descemos a costa africana e nos aproximamos do Cabo Bojador, as águas vão ficando mais quentes e o sol brilha mais forte. Só espero que todas aquelas lendas estejam erradas e que, em vez do inferno, estejamos a dirigir-nos à Índia.
       Estamos há 50 dias sem ver terra, o alimento já escasseia! A fome vai-se começando a sentir na nossa nau, nos olhos dos marinheiros e nas suas mãos que estendem quer a pedir pão, quer a rezar a Deus para que tudo melhore.
      O cozinheiro não melhorou. O médico disse que tinha escorbuto. Não faço a mínima ideia do que isso seja, mas sei que é mau! O médico tentou dar-lhe uns chás e umas misturas que tinham aspeto horrível, mas não funcionaram tal como as rezas do frade.
     Vendo a agitação do convés, o frade tentou cozinhar alguma coisa. Pegou numa galinha e alinhavou uma canja. Foi uma imagem engraçada ver o frade a bailar com uma galinha, enquanto tentava apanhá-la. Não tinha jeito nenhum a manusear o punhal. Ela lutava melhor do que ele. Com tanto bailarico, o frade deixou cair o pobre animal ao mar. Ouve-se gritar o Pêro, marinheiro novo, mas com pouca sanidade… o mar e os desgostos amorosos deixaram-no assim…:
   «- Ó frade, é o preço a pagar por tentar matar uma criatura de Deus!»
      Toda a tripulação se ri. Mas, logo depois, apercebem-se de que não vai haver canja nem coisa nenhuma para o almoço e que perderam mais uma galinha. Quase que o frade ia com ela também.

    A fome ainda não rebentou, mas já se começa a sentir. Espero chegar a terra em breve…

Diogo de Vale/Sofia Barroso, 9.º A

     Querido Diário!
    Chegámos a Melinde! Finalmente conseguimos vencer o desconhecido. Vou explicar o que aconteceu na nossa Aventura.
    Inicialmente, a viagem estava a correr bem, mas, de seguida, apareceu um monstro enorme que se chamava Adamastor, situado no cabo Bojador e que fez profecias aterradoras sobre o Povo português. O nosso Mestre Vasco da Gama enfrentou o Gigante perguntando-lhe:
«- Quem és tu?»
        Não sei por quê, mas o Adamastor ficou surpreendido com a pergunta e quando já estava no final da sua triste história, desapareceu e com ele a turbulência.
       Continuamos a viagem até que paramos em Melinde, um território situado em África, na costa do Oceano Índico para descansarmos. Ficamos encantados! Fomos muito bem recebidos por este Povo e pelo seu rei! Após o descanso, conseguimos arranjar mantimentos para seguir viagem
        Ainda neste trajeto rumo ao Oriente, apareceu uma grande Tempestade que nos destruiu os barcos e nós, os marinheiros, começámos a ficar assustados e preocupados. Por isso, rezamos muito a Deus.       
       Concluindo, esperemos que Deus nos proteja e que consigamos, finalmente, chegar à nossa Índia.
Sebastião/ Catarina Ribeiro, 9.º A



       Querido diário!
     Chegamos ao Cabo da Boa Esperança. Nós, os marinheiros, estamos a redigir este Diário, para contar os medos e obstáculos que tivemos de ultrapassar durante a Viagem rumo à Índia.
     Quando vimos aquele terrível monstro, ficamos assustadíssimos, pensamos logo que iríamos morrer! Mas Vasco da Gama, com inteligência, experiência e sabedoria, conseguiu ultrapassá-lo.
    A viagem continuou, os marinheiros enfrentaram outros medos.
   Com o passar do tempo, alguns deles adoeceram com o escorbuto. Ficaram cansados, as gengivas sangravam e caíam os dentes. Houve muitas mortes provocadas por esta doença e Vasco da Gama pediu a Deus que os ajudasse, perante as dificuldades.

Álvaro/ Maria João Vasconcelos, 9.º A



                     Costa africana, 13 de junho de 1498

Querido Diário!
No princípio, houve um pouco de dificuldade com os despedidas, mas quando embarcámos para zarpámos em direção ao desconhecido, eu senti-me com esperança e ansioso.
O início da viagem foi tranquilo, porém, passado estes exatos 90 dias, deparámos com o Cabo das Tormentas, e devo admitir que, para os muitos que diziam sobre Cabo como: ”é impossível atravessá-lo ou vão todos morrer se tentarem”, na minha opinião, é tudo uma grande mentira.
Hoje, atravessámos o grande promontório designado por Cabo das Tormentas. Conseguimos ultrapassar este e os terríveis obstáculos que nos aguardavam.
A pior coisa da viagem, até agora, continua a ser, sem dúvida, a fome que estamos a passar. Quanto ao Cabo das Tormentas, foi apenas necessário passar ao largo, como se estivéssemos a passar ao lado de uma pessoa.
Neste momento, estamos a navegar na costa oriental africana, ao lado de uma terra que os indígenas chamam Moçambique.
Espero que o seguimento da viagem nos corra bem e sem complicações.
Eu voltarei a escrever amanhã no meu Diário de Bordo. Espero que Deus nos proteja e nos ajude.


Henrique/Beatriz Cunha Soares, 9.º A



Diário de Bordo,1498



  Mais um dia se passou, dou conta disto pelos raios de sol que entram pela pequena janela disto a que eles chamam de “quarto”. Como podem colocar 5 mulheres numa mera arrecadação?! Até os marinheiros que limpam o convés são mais bem tratados do que nós.
            Ontem, ouvi-os a comemorar, então, julgo que estaremos próximas do nosso cruel e injusto destino. Nunca percebi por que é que fomos arrastadas para esta nau, mas desconfio que nos irão oferecer a alguém…
            Quem diria que ia acabar assim, no meio do mar trancada e sem nenhumas condições?! De que serviram todos os anos em que me dediquei a aprender a arte da língua portuguesa? Para, no final, ser subjugada e maltratada por me considerarem o “sexo inferior”.
Posso bordar, cozinhar, escrever, ler e muitos que dos estão aqui nem falar direito sabem…

            Hoje, um marinheiro chamado Camões veio dar-nos a nossa pequena refeição. Quando olhou para mim, começou a recitar poemas. Confesso que quase que me tocou na alma, mas jurei nunca confiar num homem. Prometeu que me iria salvar, mas sempre foi meu sonho mostrar que nós, mulheres, somos capazes de fazer o que eles fazem, ou até melhor. Mas, pensando bem, o que é que isso me trouxe?! Espero que, no futuro, tudo melhore e que as mulheres mostrem o seu poder.
            Estou a ouvir barulhos. Amanhã, voltarei a escrever, com esperança de um mundo melhor.

           Branca/ Ana Beatriz Cadete,9.ºC



Melinde, 15 de junho de 1498


Querido esposa,
Depois destes longos dias, em alto mar, cada vez mais, sinto saudades de estar contigo. Lembro-me constantemente dos maravilhosos momentos que passei ao teu lado. E perante os biscoitos que nos restam e a pouca carne salgada, agora racionada, sinto falta da tua comida, até da que nem saía sempre bem.
Enquanto não posso receber novidades tuas, escrevo linhas para partilhar as dificuldades por que passamos. Sei que me vais dizer que a decisão foi minha. No entanto, lembro-te de que o dinheiro era e é importante para dar começo a uma nova vida. Para além disso, a Pátria precisava de nós, para entrar na História.
 Estava tudo contra nós. Tínhamos passado por muitas tempestades, os mantimentos estavam a esgotar-se e muitos marinheiros pensavam em desistir, ou por ter saudades da família ou por sentir medo. O desânimo estava instaurado na nossa nau; já ninguém acreditava que possível chegar à Índia. Até que, num dia de sol, com um mar calmo avistamos terra. A partir daí, tudo foi diferente. Estávamos todos radiantes. Finalmente, podíamos dormir confortavelmente e reabastecer a nau, recuperando forças. Contudo, apesar de sermos recebidos amigavelmente, o capitão, baseado num pressentimento, afastou-nos do local. Naquele momento, sentimo-nos perdidos e aquela solução escapou-nos por entre os dedos. No entanto, a Providência Divina ajudou-nos a encontrarmos em Melinde um sítio perfeito para recuperar as nossas mazelas. Os indígenas, apesar de serem estranhos e andarem nus, eram amigáveis e pacíficos, permitindo-nos sentir estar perto de casa e animados para realizar a parte final da viagem.
Mesmo estando em terra e sermos bem acolhidos, as saudades impedem-me de viver, em pleno, o momento. O que mais desejo é regressar a casa e levar-te a recompensa destes anos de sofrimento.
Espero que estejas bem e que brevemente permaneçamos juntos.
Beijos do teu adorado marido,

Luís / Luís Fernandes, 9.º A

Oceano Índico, 22 de Fevereiro de 1498
Querida amiga,

neste momento, estou a navegar em direção ao Oriente e decidi enviar-te esta carta, para te contar o que tenho vivido durante toda a Viagem até aqui. Ser tripulante de uma nau não é uma tarefa fácil, todos os dias vivemos aventuras com muita coragem. Mas o pior de tudo, penso, já passou.
Vou contar-te o que aconteceu: 5 dias após termos partido pelos «mares nunca dantes navegados», com os ventos a soprar, uma nuvem que até os «ares» escureceu, «tão temerosa» veio que «pôs nos nossos corações» um enorme medo e receio do que ia acontecer. Essa nuvem era Adamastor! Tinha o «rosto carregado» e a «barba esquálida», «os olhos encovados e a postura medonha e má», de «cor terrena e pálida». Era tão grande que nem posso explicar bem a sensação que experimentei; tinha um tom de voz «horrendo e grosso». Naquele momento, não sei bem o que senti, o meu coração ficou muito acelerado e pensei que não íamos passar «além do Bojador». Mas, felizmente, tudo correu bem. Vasco da Gama esteve à altura da sua nobre missão.

Espero, dentro de pouco tempo, finalmente, chegar à Índia.

Tenho muitas saudades tuas,

Beijinhos da tua melhor amiga


Lara Marques, 9.º E