A Biblioteca do Rei Afonso Henriques

quinta-feira, 23 de abril de 2015

DIA MUNDIAL DO LIVRO - 23 de abril

        Hoje, comemora-se, mundialmente, o Dia do Livro, data em que faleceram dois importantes escritores: Cervantes e Shakespeare.
   Este cartaz (da autoria do atelier Silvadesigners) – que num intenso jogo de luzes e efeitos, capta a atenção – evidencia que os livros podem ter leituras variadas e múltiplos ecos, consoante os leitores a que chegam. As suas imagens estão distorcidas, o que nos dá vontade de o decifrar e, consequentemente, interesse em o ler.
Lê um livro! Ler é maravilhoso!
Boas leituras!

Lê em Ler mais algumas poesias sobre o livro e a importância da leitura para alguns Poetas.

1. Ler à lareira
Se estava a chover,
sentava-me a ler
junto da lareira.

Que bela maneira
de passar a tarde,
quando a lenha arde
e cá na memória
se guarda uma história
lida com prazer!

Se a chuva caía,
eu lia, eu lia…

Maria Teresa Maia Gonzalez
in A casa com o sol lá dentro



2. Os livros
 Apetece chamar-lhes irmãos,
 tê-los ao colo,
 afagá-los com as mãos,
 abri-los de par em par,
 ver o Pinóquio a rir
 e o D. Quixote a sonhar,
 e a Alice do outro lado
 do espelho a inventar
 um mundo de assombros
 que dá gosto visitar.
 Apetece chamar-lhes irmãos
 e deixar brilhar os olhos
 nas páginas das suas mãos.

José Jorge Letria
in Pela casa fora


3. Ler
 Ler sempre.
 Ler muito.
 Ler “quase tudo”.
 Ler com os olhos, os ouvidos, com o tacto, pelos poros e demais sentidos.
 Ler com razão e sensibilidade.
 Ler desejos, o tempo, o som do silêncio e do vento.
 Ler imagens, paisagens, viagens.
 Ler verdades e mentiras.
 Ler o fracasso, o sucesso, o ilegível, o impensável, as entrelinhas.
 Ler na escola, em casa, no campo, na estrada, em qualquer lugar.
 Ler a vida e a morte.
 Saber ser leitor, tendo o direito de saber ler.
 Ler simplesmente ler.

Edith Chacon Theodoro (poetisa brasileira)



4. As árvores e os livros

As árvores como os livros têm folhas
 e margens lisas ou recortadas,
 e capas (isto é copas) e capítulos
 de flores e letras de oiro nas lombadas.
 E são histórias de reis, histórias de fadas,
 as mais fantásticas aventuras,
 que se podem ler nas suas páginas,
 no pecíolo, no limbo, nas nervuras.
 As florestas são imensas bibliotecas,
 e até há florestas especializadas,
 com faias, bétulas e um letreiro
 a dizer: «Floresta das zonas temperadas».
 É evidente que não podes plantar
 no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
 Para começar a construir uma biblioteca,
 basta um vaso de sardinheiras.

Jorge Sousa Braga
in Herbário


5. Livro
Livro
um amigo
para falar comigo
um navio
para viajar
um jardim
para brincar
uma escola
para levar
debaixo do braço.
Livro
um abraço
para além do tempo
e do espaço.

Luísa Ducla Soares
in Poemas da mentira e da verdade


1. Eu sou o mundo e o mundo sou eu,
Eu sou o mundo e o mundo sou eu,
porque, com o meu livro,
posso ser tudo o que quiser.
Palavras e imagens, verso e prosa
levam-me a lugares a um tempo próximo e distante.

Na terra dos sultões e do ouro,
há mil histórias a descobrir.
Tapetes voadores, lâmpadas mágicas,
génios, vampiros e Sindbades
contam os seus segredos a Xerazade.

Com cada palavra de cada página
viajo pelo tempo e pelo espaço
e, nas asas da fantasia,
o meu espírito atravessa terra e mar.

Quanto mais leio mais compreendo
que com o meu livro
estarei sempre
na melhor das companhias.

 Hani D. El-Masri  (tradução: José António Gomes)

2. Os livros
Os livros. A sua cálida
Terna, serena pele. Amorosa
Companhia. Dispostos sempre
A partilhar o sol
Das suas águas. Tão dóceis
Tão calados, tão leais.
Tão luminosos na sua branca e vegetal cerrada
Melancolia.
Amados
Como nenhuns outros companheiros
Da alma. Tão musicais
No fluvial e transbordante
Ardor de cada dia.

Eugénio de Andrade, in Antologia Breve (1972)


3. O livro
Toma o teu livro
Cuidadosamente
Como quem afaga um tesoiro.
Inclina-te contente
E abre o segredo de oiro
Das laudas vigilantes:
Ardem como um coração
Fixam como um olhar
Abrem-se como uns lábios
Que segredam uma oração.
Toma o teu livro
Que te ensina a Vida
Com um abraço de irmão.
Lúcio Craveiro da Silva


4. Os meus livros
Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.

Jorge Luis Borges, in A rosa profunda


5. Pó
Nas estantes os livros ficam
(até se dispersarem ou desfazerem)
enquanto tudo
passa. O pó acumula-se
e depois de limpo
torna a acumular-se
no cimo das lombadas.
Quando a cidade está suja
(obras, carros, poeiras)
o pó é mais negro e por vezes
espesso. Os livros ficam,
valem mais que tudo,
mas apesar do amor
(amor das coisas mudas
que sussurram)
e do cuidado doméstico
fica sempre, em baixo,
do lado oposto à lombada,
uma pequena marca negra
do pó nas páginas.
A marca faz parte dos livros.
Estão marcados. Nós também.

Pedro Mexia, in Menos por menos